30 de ago. de 2018

O fazedor de chuva


São Paulo
Esta história foi muitas vezes contada, mas Jung, que nos dava poucos conselhos diretos, disse-me um dia: “Nunca faças seminários ou conferências sem contar às pessoas esta história”. Num dos seus últimos Natais, pouco tempo antes da sua morte, quando nós participávamos do Jantar do Clube (Club Psychologique de Zurich), ele contou-a para nós de novo. Não havia certamente ninguém na sala que não conhecesse já a história e portanto, depois que ele a contou, toda atmosfera mudou.
 
Houve uma terrível seca na parte da China onde vivia Richard Wilhelm (sinólogo, amigo de Jung e tradutor do I Ching). Depois de as pessoas terem tentado em vão os meios conhecidos para obter a chuva, decidiram mandar buscar um fazedor de chuva. Isto interessou muito a Wilhelm que se preparou para estar lá quando o fazedor de chuva chegasse.

O homem veio numa carroça coberta, um pequeno velho ressequido, que fungava com uma repugnância evidente quando saiu da carroça e que pediu que o deixassem sozinho numa pequena cabana em frente da aldeia; mesmo as suas refeições deviam ser deixadas no exterior, diante da porta. Não se ouviu falar mais dele durante três dias. Depois disso, não somente choveu, mas nevou intensamente, o que nunca se tinha visto nessa época do ano.

Muito impressionado, Wilhelm procurou o fazedor de chuva na cabana e perguntou-lhe como podia ter feito chuva e mesmo neve. O fazedor respondeu: “Eu não fiz a neve; não sou responsável por isso”. Wilhelm insistiu: havia uma terrível seca até à sua vinda e depois, passados três dias, houve grande quantidade de neve. O fazedor de chuva respondeu: “Oh! Isso eu posso explicar. Veja, eu venho dum lugar onde as pessoas estão em ordem; estão em Tao; então o tempo também está em ordem. Mas chegando aqui, vi que as pessoas não estavam em ordem e também me contaminaram. Por esse motivo fiquei sozinho até estar de novo em Tao, e então, naturalmente, nevou”.

Os alquimistas procuravam sem cessar unir os opostos, pois não é senão quando estão unidos que se pode encontrar a verdadeira paz. Coletivamente nada podemos fazer; Jung repetia-o constantemente: a única forma que temos para fazer alguma coisa, é no indivíduo, é em nós mesmos.

É o princípio do fazedor de chuva: quando o indivíduo está em Tao – local onde os opostos estão unidos – há uma influência inexplicável sobre o ambiente.
Há em nós um lugar onde os opostos estão unidos e nós devemos aprender a ir visitá-lo, permitindo assim à luz voar pelo mundo.

Barbara Hannah, (1981): «Rencontres avec l’Âme – L’imagination active selon C.G.Jung»; Psychologie, Collection la Fontaine de Pierre.

20 de nov. de 2015

Uma floresta em 10 m2





Pitangueira, pau-brasil, jatobá, grumixama, ipê-amarelo, araribá-rosa, cipreste e palmeira são as árvores. 





pitangueira
grumixama
pau-brasil


 












 
jatobá

ipê amarelo

Nas grades, ora-pro-nóbis e clerodendro-vermelho. Chuva-de-ouro e bromélia num tronco e no chão. Um malvavisco se junta ao clerodendro para atrair beija-flores e cambacicas. Um buxinho, árvore-da-felicidade, pingo-de-ouro, orelha-de-burro e ainda outras crescem na sombra. No chão e no muro, hera, no outro muro, unha-de-gato. Na calçada, um chal-chal.

ora-pro-nóbis por trás do pau-brasil

clerodendro








bromélia










Tudo em pouco mais de 6 m2 de chão. Em vasos sobre o cimento, palmeiras. E ainda tem mudinhas brotando pelo chão, de árvores usadas na arborização das ruas. 


chal-chal




Com a sombra e umidade, a temperatura no jardim é, nos dias quentes que tem feito, sempre 4 graus abaixo da medida na rua. 







O jardim foi plantado sobre uma antiga entrada de garagem, em solo de barro vermelho muito compactado, inclinado, por isso as raízes não se aprofundam. Exige irrigação, que é feita com a água de reuso guardada do chuveiro, os banhos na casa são com sabonete de glicerina. A adubação é com o chorume e com o humus de minhoca da composteira doméstica. 
área de terra do lado direito

área de terra do lado esquerdo













sagüi-de-tufo-branco
Toda floresta atrai animais. Os beija-flores gostam do malvavisco e do clerodendro, outros passarinhos - como sabiá e sanhaço - procuram a pitanga, e até sagüis de tufo branco aparecem às vezes. 



Identificação das espécies: 
araribá-rosa: Centrolobium tomentosum
chal-chal: Allophylus edulis

grumixama: Eugenia brasiliensis
ipê-amarelo: Tabebuia chrysotricha 
jatobá: Hymenaea courbaril var. stilbocarpa
pau-brasil: Caesalpinia echinata

ora-pro-nóbis: Pereskia aculeata
clerodendro-vermelho: Clerodendron splendens, nativa da África
chuva-de-ouro: Oncidium varicosum
malvavisco: Malvaviscus arboreus, nativa do México


6 de mai. de 2015

Nascentes do Córrego Cabuçu

O nome Cabuçu é de pelo menos um córrego e três rios na zona norte de São Paulo. Cabuçu pode vir de caba-açu, vespa grande, ou pode se referir a uma planta. A árvore chamada cabuçu é Miconia cabucu, encontrada apenas em SP, PR e SC. Já o cipó cabuçu é Coccoloba mosenii, nativo só de matas ciliares de SP a BA. 


Bacia do Rio Tremembé-Ribeirão Piqueri

O Córrego Cabuçu de que falo faz parte da bacia do Rio Tremembé - Ribeirão Piqueri, que por sua vez é parte da bacia do Rio Cabuçu de Cima, afluente do Rio Tietê, e que faz a divisa entre Guarulhos e São Paulo. 
 
Este córrego tem várias nascentes, na região da colina do Tucuruvi, e corre para o norte. Dizem os moradores que há uma nascente sob a estação de metrô. Olhando o mapa das curvas de nível da região, nota-se que o entorno da estação do metrô foi uma lagoa. Moradores antigos falam de um brejo, e que os poços davam água salobra.

O site Rios (In)visíveis tem um mapa do Córrego Cabuçu, sobre o qual fica a Av. Prof. Antonio Maria de Laet - antiga Cabuçu, claro.  Muitas ruas de São Paulo foram rebatizadas, perdendo seu nome original dado pelo rio que seguiam.

 
 

O mapa é aproximado, vamos localizar com mais exatidão as nascentes, usando o site da prefeitura sobre manejo de águas pluviais. O arruamento, em marrom-claro, dá a localização correta dos córregos nas quadras.

Córregos Lavrinhas e Cabuçu


Você vai dizer que não vê nenhum córrego nesses lugares, mas é porque aqui ele está escondido, canalizado. Veja-o no mapa dos córregos escondidos, em vermelho, e a céu aberto, em azul.






 
R. Caranguejo
A primeira nascente fica na Rua Caranguejo - antiga Santa Ninfa. Vista aqui da R. Claudino Inácio Joaquim, a Caranguejo tem no meio um vale. A nascente é nesta quadra à direita, conta-se que toda a região era um brejo, os córregos foram canalizados no loteamento, no começo do século XX, portanto ninguém viu estas nascentes. 
 



Talvez a nascente esteja entre estas árvores do estacionamento do Bradesco e esta casa antiga, ponto mais baixo da quadra.



Travessa Bacim Ackel

Este veio de água entra canalizado na Travessa Bacim Ackel. As duas caixas de esgoto da SABESP mostram que o córrego passa entre elas. A entrada das águas pluviais leva-as até ele, que nesta quadra faz uma curva para o norte.







Na ruazinha sem saída e sem nome que é a próxima paralela à Caranguejo, o córrego faz outra curva, para o sul.




R. Baraqueçaba



E é ouvido nas bocas de lobo da Rua Baraqueçaba.




 

O vale nesta rua inunda nas chuvas fortes, e um dos moradores fechou a garagem e murou a frente da casa por causa destas enchentes.







Vê-se que, dos dois lados da rua, o córrego canalizado foi respeitado nas construções.
Quando as casas ainda tinham água de poço, os moradores se uniram e canalizaram o esgoto para o córrego. Quando a SABESP trouxe a rede de água, acabou por fazer também uma rede de esgotos, jogando-o no mesmo córrego.

R. Claudino Inácio Joaquim

A água correndo também pode ser ouvida na R. Claudino Inácio Joaquim, porque o córrego fez agora uma grande curva para o norte, seguindo o nível do terreno, e está sob outra boca de lobo.




E daí segue sob a Av. Prof. Antonio Maria de Laet, antiga Cabuçu, perto do metrô Tucuruvi. 
Metrô antes do shopping


Antes da construção do shopping ainda era possível ver o desnível do terreno entre as avenidas Mazzei e Maestro Villa-Lobos.

12 de abr. de 2015

Jardim que passarinho gosta

Eles pousam no pinheiro, onde cantam
Sabiás, sanhaços, cambacicas e rolinhas são os que conheço. Outros têm cantos que identifico, nem sempre consigo ver quem canta.

O pinheiro não serve para ninhos, e a pitangueira ainda é pequena e fina, mas já dá frutos atraentes.

O malvavisco e o clerodendro vermelho atraem beija-flores, cambacicas e outros. 

Pendurei na pitangueira um prato onde coloco pedaços de mamão, banana, caqui, manga, abacate. 

No chão deixo um prato de água, que troco todos os dias, onde os sabiás e as rolinhas tomam banho.  

A respeito desta água, o fato de trocar todos os dias impede a proliferação do Aedes aegypti, vetor do vírus da dengue. Veja porque, conhecendo o ciclo de vida desse mosquito no site C+, ou acesse o Guia básico de dengue elaborado pela SUCEN. 

Num posto de gasolina da Av. Antonio Maria de Laet está instalado um comedouro para passarinhos da Natureza Livre, perto de uma fileira de paus-brasil plantados na calçada. Os três andares têm comidas para dietas diferentes, as aves entram e saem.

Uma empresa perto do metrô Jardim São Paulo também tem um comedouro destes.

29 de mar. de 2015

Jardim de flores da Da. Lourdes


Ela tem 85 anos - não aparenta. 

Todo dia, de manhã, está de sacho nas mãos enluvadas, às vezes de chapéu de palha (um modelo bem bonito), com balde de água. Cavoca, carrega terra, planta, mantém as bordas limpas da grama. 

O jardim fica sobre o córrego Cabuçu, canalizado. 

 O canteiro central da Avenida Prof. Antonio Maria de Laet já tinha muitas árvores, a maioria plantadas e cuidadas durante anos pelo morador de um apartamento da R. Cônego Ladeira.  

Recentemente a subprefeitura urbanizou o canteiro central, e há alguns meses a Da. Lourdes começou a plantar flores. 



Começou por este, pequeno, com um hibisco. 




 


Tive a sorte de encontrar esta borboleta nas flores. 








Este é o canteiro mais comprido - por enquanto.
Mesmo quem sai do estacionamento e atravessa a rua indo para o metrô, evita pisar sobre as plantas. Várias delas foram dadas à Da. Lourdes, para que plantasse.




Uma das coisas que a entusiasma são os elogios. Claro, também há quem critica.
Mas o entusiasmo é maior, e ela está começando um canteiro novo, espalhando a terra, cheia de minhocas, que sobrou de uma intervenção da subprefeitura. 



Uma senhora lhe disse que, um dia, tinha saído de casa muito aborrecida com os problemas de família, se sentindo muito mal. Quando viu as flores na rua, tudo mudou, ela se sentiu em paz.




Um pai disse ao filho, menino, que essa senhora estava fazendo aquele jardim. O menino parou diante dela e aplaudiu, e o pai se juntou ao filho no aplauso.




 


13 de fev. de 2015

O córrego perto da minha casa

E se seu endereço não fosse a rua, mas o córrego na margem do qual você mora? Algo como, "Córrego Lavrinha, margem direita, casa 3 depois da foz do Córrego Cabuçu"?

 Não é absurdo: veja o mapa das bacias hidrográficas do município de São Paulo e os córregos que existem em cada uma delas. 

Não se anda 200 m na cidade sem encontrar um córrego. Bem, encontrar não, porque grande parte deles estão escondidos, canalizados.

Desafio você a encontrar o córrego perto da sua casa e saber seu nome. Encontre-o no mapa, e encontre-o na rua, que é onde ele está. Passa pelo meio da quadra, aparece no bueiro, ou se ouve o ruído de sua água correndo. 

Onde fica sua nascente? 
As pessoas mais antigas no bairro, se lembram de um tempo em que pegavam água dessa nascente?

Eu moro no Córrego Cabuçu, margem esquerda, na quadra de sua segunda nascente nessa margem.


O projeto Rios (In)visíveis está propondo o mapeamento colaborativo dos rios e córregos de São Paulo. Participe!



1 de fev. de 2015

Reuso da água da máquina de lavar: como evitar o mau cheiro

Aceitei o desafio de testar uma hipótese: se a roupa for lavada com sabão de coco ralado, a água do enxágue não fica com mau cheiro.

Testei, duas vezes, e é fato: guardei a água por uma semana, num recipiente de plástico de 110 l , tampado, e o cheiro era suave. Comparando com a roupa lavada com sabão em pó, é muito melhor: não era possível guardar a água mais de três dias, porque ao lavar o quintal com ela o mau cheiro persistia por horas. 

Ralando o sabão de coco direto sobre a roupa
O processo que usei está na foto ao lado: ralei meio sabão de coco de 200 g - para uma máquina com capacidade para 8 kg - diretamente sobre a roupa, ou seja, usei 100 g de sabão.

Para ralar usei um ralador da quatro faces, escolhi aquela que tira pequenas lascas, usada para cortar legumes tipo "palha fina". 

Experimente outras opções. O que importa é que o sabão dissolva.

Depois deixei a máquina bater a roupa uma vez e desliguei, deixando de molho várias horas. Com isso não só o sabão dissolve, como age sobre a roupa.

Além de melhorar o cheiro da água do enxágue - porque a primeira água não tem jeito, não dá para guardar, nela fica toda a sujeira da roupa - observei que a roupa ficou muito mais limpa (e mesmo com o sabão em pó sempre deixei a roupa de molho), e com um delicioso cheiro de ... nada! Sem aquele cheiro da marca do sabão em pó que você usou desta vez.